A
política passou! Confesso que estranho ao ouvir tal
afirmação, muitas vezes, inclusive, da boca de pessoas com alto grau de
exercício intelectual. Há na expressão uma confusão entre política e “período
eleitoral”. Dessa forma, se o segundo, como o próprio nome indica é um fenômeno
passageiro, periódico, com data de validade estabelecida, o primeiro – a política
– é algo que só passará quando os seres humanos não mais existirem sobre a face
da terra, uma vez que somos animais políticos, que é no espaço da política que
os interesses dos diversos grupos se confrontam e que são tomadas as decisões
que afetam a vida de cada um e de cada uma de nós. Mas, por outro lado, fica claro que o uso da
expressão não é gratuito, ou seja, há grupos e pessoas interessadas em que
pensemos dessa forma, em que confundamos a política com o período eleitoral.
Pois se no período eleitoral somos chamados a participar, pegar a bandeira, ir
às ruas, nos reunirmos, discutirmos os rumos da campanha, acompanharmos,
vibrarmos e ajudarmos os nossos candidatos e candidatas, passado o tempo da
campanha, a tendência é que já não haja tanto
interesse nessa forma de participação popular direta. Por um lado, muitos eleitos, que na época da campanha incentivaram e souberam
aproveitar a participação popular, passado o período eleitoral, tendem a não
mais incentivar e mesmo “impedir” tal participação. Por outro lado há também
grupos, grupelhos e pessoas interessadas em controlar os rumos das políticas
públicas (saúde, educação, assistência, administração, obra, transportes etc.),
para os quais a participação popular aparece como um obstáculo a tal controle.
Também para esses grupos, a participação popular “fora do período eleitoral”
ganha sinônimo de bagunça, intromissão e os que a propõem, com suas práticas e
ações, correm o risco de serem diabolizados.
Para a sociedade civil, sobretudo, em sua face popular organizada (associações,
clubes de mães, igrejas, organizações não governamentais etc.), bem como para
os homens e mulheres de boa vontade, preocupados com o “andar da carruagem”,
fica, no entanto, a responsabilidade e mesmo a missão inalienável de continuar
organizando todos os segmentos sociais: mulheres, jovens, idosos, estudantes,
trabalhadores, do campo e da cidade, na busca de influenciar os rumos da administração
dos negócios públicos, afim de que esses negócios não sejam utilizados de forma
privada, deixando de servirem ao bem estar de todos e servindo apenas aos
interesses dos familiares e clientes dos eleitos. É hora da população,
sobretudo dos setores organizados e mais marginalizados novamente se reunirem
em torno da moralidade da coisa pública (chega de nepotismo), da transparência
no uso dos recursos públicos, do fim da perseguição política, e, sobretudo pelo
controle dos rumos da política pública. É a população que deve dizer o que deve
ser feito com os recursos públicos, como o mesmo pode e deve ser utilizado, é a
população que sofre na pele quem melhor conhece as necessidades. Os políticos
são apenas representantes, administradores pagos e bem pagos (ouvi informação
de que, no município de Tavares - tomado aqui como exemplo - um vereador passará a ganhar mais de R$
4.000,00; o vice prefeito, cerca de R$ 8.000,00 e o prefeito algo em torno de
R$ 16.000,00) para servirem ao povo, são pois funcionários do povo, e se não
sabem dessa verdade, devem ser educados pelo povo, para que dela tomem
conhecimento. Como lembra Frei Beto, “direito é igual feijão, só vem na pressão”.
Vivamos, pois, a política não apenas de forma passageira, num determinado
período do ano, mas façamos dela uma prática cotidiana, pois só dessa forma,
construiremos um lugar melhor, melhor para trabalhar, melhor para viver.